quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Sonhar com Zaratustra: Mergulhando em Nietzsche

Certa manhã acordei de sonhos intranquilos. Havia sonhado que estava em um avião, onde um demônio tentava derruba-lo, quando uma espécie de espírito de luz entrou dentro do avião e disse "sou Zaratustra e vim te ajudar". Foi quando conseguiu pousar o avião após uma longa briga entre o que seria o Diabo e ele, Zaratustra. Quando acordei, pensei, será que Zaratustra existe? E digitei no santo google para ver se achava algo, até então nunca havia escutado falar nada sobre. Foi quando me apareceu a história de Zaratustra, mais conhecido como Zoroastro. Um ser fundador do Masdeísmo, a primeira religião monoteísta do mundo. A denominação grega significa contemplador dos astros. Fiquei maluca com o fato de tal criatura aparecer em meu sonho e se apresentar a mim como quem queria dizer algo. E foi assim que descobri o livro de Nietzsche "Assim falava Zaratustra" e comecei a lê-lo. Coincidentemente ou não me senti contemplada em cada palavra do livro, como se tivesse achando as respostas pra algumas perguntas que a tempos me atormentava. E sendo assim, vou transcrever alguns dos trechos de alta reflexão e profundidade que me chamou atenção no livro, fica a cargo de cada um refletir e tirar suas próprias conclusões.

"Eu vos anuncio o super-homem. O homem só existe para ser superado. Que fizestes para o superar? Até agora todos os seres criaram alguma coisa que os supera, e vós quereis ser o refluxo desta grande maré e regressar ao animal em vez de superar o homem? Que é o macaco para o homem? Uma irrisão ou uma dolorosa vergonha? Tal será o homem para o Super-homem: uma irrisão ou uma dolorosa vergonha. Percorrestes o caminho que vai do verme ao homem e ainda em vós resta muito do verme.Outrora fostes macacos, e mesmo agora o homem é mais macaco do que todos os macacos. Mesmo o mais sage de todos vós não passa de um ser híbrido e disparatado, meio-planta, meio-fantasma. Acaso vós disse para vos tornardes fantasmas ou plantas? Eis que vos anuncio o Super-homem. O Super-homem é o sentido da terra. Que a vossa vontade diga: possa o Super-homem tornar-se o sentido da terra. Exorto-vos, meus irmãos, a que permaneçais fiéis à terra e não acrediteis naqueles que vos fala de esperanças supra-terrestres. Conscientemente ou não, são envenenadores. São menosprezadores da vida, moribundos, intoxicados de quem a terra esta cansada: que pereçam pois. Mas vós, meus irmãos, dizei-me: que diz o vosso corpo da vossa alma? Não é a vossa alma miséria, imundice e conformidade lastimosa? Na verdade o homem é um rio lamacento. É preciso ser pelo menos o mar para absorver em si um rio lamacento sem se toldar. Pois bem, vos anuncio o Super-homem. É ele esse mar, nele se irá perder o vosso grande desprezo. [...] O homem é uma coisa estendida entre o animal e o Super-Homem - uma corda sobre o abismo. É perigoso vencer o abismo - é perigoso ir por este caminho - é perigoso olhar pra trás - é perigoso ter uma tontura e parar de repente! A grandeza do homem esta em ser uma ponte e não uma meta; o que se pode amar no homem é ser ele transição e perdição"

O ar leve e puro, o perigo próximo e o espírito pleno de alegre malícia, tudo isso se harmoniza maravilhosamente. Gosto de me ver rodeado de duendes maliciosos, porque sou corajoso. A coragem afugenta os fantasmas, mas cria os seus próprios duendes. A coragem gosta de rir. Sinto todas as coisas diferentemente de vós; a nuvem que distingo abaixo de mim, escura e carregada, e de que me rio - é para vós uma nuvem tempestuosa. Vós olhais para cima, porque aspirais a elevar-vos. E eu, como estou no alto, olho para baixo. Qual e vós sabe ainda rir, mesmo depois de ter atingido o alto? O que escala os mais elevados montes ri-se das cenas trágicas do palco como da gravidade trágica da vida. Corajosos, despreocupados, zombeteiros, imperiosos, assim nos querem a sabedoria; é mulher e só pode amar guerreiros. Vós me dizeis: a vida é um fardo pesado. Mas para que vos servem o vosso orgulho matinal e a vossa resignação da tarde? A vida é um fardo pesado? Não vos mostreis tão contristados! Não passamos todos de uns bons burrinhos e burrinhas de carga. Que temos em comum com um botão de rosa que verga sob o peso de uma gota de orvalho? É verdade que se amamos a vida, é por estarmos mais habituados a amar do que a viver. Há sempre o seu quê de loucura no amor. Mas há sempre o seu quê de razão na loucura. E quanto a mim, que gosto da vida, parece-me que aqueles que melhor se entendem com a felicidade, são as borboletas e as bolão de sabão, e tudo o que entre os homens se lhe assemelhe. Ver revolutear essas alminhas aladas e loucas, graciosas e movediças, é o que arranca a Zaratustra vontade de chorar e cantar. Eu só podia acreditar num Deus que soubesse dançar. E quando vi o Diabo, achei-o grave, meticuloso, profundo, solene; era o espírito da Gravidade. É ele que faz cair todas as coisas. Não é a cólera, é o riso que mata. Adiante! matemos o espírito da Gravidade! Eu aprendi a andar: desde então deixei de esperar que me empurrassem para mudar de sítio. Vede como me sinto leve; vede, estou a voar; vede, agora vejo-me do alto, como um pássaro; vede, um Deus dança em mim."

"O Estado é o lugar onde todos se perdem, os bons e os maus; onde o lento suicídio de todos se chama a vida. Vede, pois, esses supérfluos! Estão sempre doentes, vomitam a sua bílis; é a isso que chamam jornais. Entredevoram-se e nem sequer chegam a digerir-se. Vede, pois, esses supérfluos!  Adquirem riquezas e só se torna mais pobres. Querem o poder, e primeiro de tudo a alavanca do poder, muito dinheiro - esses impotentes! Todos querem ascender ao trono; é a sua loucura; como se a felicidade estivesse no trono. Muitas vezes é a lama que está no trono, e muitas vezes é o trono que esta plantado no lodo. São todos loucos, eu vo-lo digo outros tantos macacos e febris. O seu ídolo, esse monstro frio, cheira mal; também eles, esses idólatras cheiram mal. Quereis por hora abafar na exalação das suas goelas e dos seus apetites, ó meus irmãos? Arrancai antes as janelas e saltai para o ar livre! Evitai esse cheiro odioso! Evitai cair na idolatria desses supérfluos! Evitai esse cheiro odioso! Afastai-vos do fumo desses sacrifícios humanos! Para aqueles que se exilam voluntariamente, solitários ou aos pares, ainda há vagos muitos sítios onde sopra o hálito dos mares silenciosos. Ainda resta uma vida livre as almas grandes. Na verdade, quando se possui pouco, tanto menos se é possuído. Abençoada seja uma modesta pobreza! Onde acaba o Estado começa o homem que não é supérfluo; onde acaba o Estado - olhai para lá, meus irmãos! Não distinguis o arco íris e as pontes que levam ao Super-Homem?"

"Foge, meu amigo, refugia-te na tua solidão! Vejo-te aturdido pelo estrondo dos grandes homens e apoquentado pelos aguilhões dos pequenos."

"Os criadores de valores foram os primeiros povos, e só mais tarde indivíduos. Na verdade, o indivíduo foi a última criatura a aparecer"

"Até ao presente tem havido mil fins diferentes, porque houve milhares povos. O que falta, é a cadeia lançada a estas mil cervizes, o que falta, é um fim único. A humanidade ainda não tem fim. Mas dizei-me, irmãos, se a humanidade sofre por lhe faltar um fim, não será porque ainda não existe humanidade?"


"O solitário é como um poço sem fundo. É fácil lançar nele uma pedra; mas uma vez a pedra chegada ao fundo, dizei-me, quem se atreve-rá a tirá-la? Livrá-vos então de ofender o Solitário. Mas se vos acontecer ofendê-lo, então, matai-o também."

"Tenho uma pergunta, mas para ti só, meu irmão. Lanço-a na tua alma como uma sonda para lhe conhecer a profundidade. És jovem, e desejas mulher e filho. Eu, porém, te pergunto, serás homem que tenha o direito de desejar um filho? És vitorioso, senhor de ti e dos teus sentidos, senhor das tuas virtudes? É o que te pergunto. Ou pelo contrário são o animal e a necessidade animal que falam nesse desejo? Ou a solidão? Ou o descontentamento de ti mesmo? A tua vitória e a tua liberdade é que deveriam desejar um filho. Então levantarás monumentos vivos à tua vitória e à tua libertação. Terás que construir qualquer coisa que te seja superior. Mas peço-te que primeiro te tenhas construído bem a ti mesmo, rectangular de corpo e alma. Não se trata somente de propagar a tua raça, mas de a levar mais acima! É a isso que te deve ajudar o jardim do casamento. Terás de criar um corpo superior, um primeiro móbil, uma roda que gire por si própria - terás de criar um criador. Casamento: chamo assim a vontade de dois criarem o ser único que deverá superar aqueles que o puseram no mundo. Respeito mútuo, eis o que constitui o casamento no meu entender, respeito recíproco dos que são animados por tal vontade. Tal deve ser o sentido e a verdade do teu casamento. Mas isso a que a plebe, a multidão dos supérfluos chama casamento, ai! que nome lhe hei-de dar? Ai, Esta miséria de alma a dois! Ai! esta imundice de alma a dois! Ai! esta mísera conformidade a dois! Eis ao que chamam casamento. E pretendem que os casamentos estão inscritos no céu! Pois bem, eu não quero esse céu dos supérfluos! Não, não amo essas bestas enredadas nas redes celestes! E fique bem longe de mim esse Deus que vem coxeando abençoar o que não os uniu. [...] E até o vosso melhor amor nunca é mais do que metáfora extática e ardor doloroso. É um archote que vos deve iluminar o caminho para os cimos mais elevados. Um dia amareis para além de vos próprios. Aprendei, pois, primeiro a amar assim. Por isso vos foi preciso beber o cálice amargo do vosso amor. Existe amargura mesmo no cálice do melhor amor, assim nos inspira o desejo do Super-Homem; que te dá sede, ó criador!"

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Sobre poder e dominação em Weber, Marx, Bourdieu e Foucault


Alguns autores possuem formas diferentes de entender a questão da dominação e do poder. Vamos a alguns deles como Max Weber, Karl Marx, Pierre Bourdieu e Michel Foucault e as formas específicas para cada um:

Max Weber: Para Weber dominação é uma forma de exercício do poder. Mais o que está em jogo não é o uso da violência, mas é a capacidade de manter a iniciativa  das ações e tornar aceitáveis para os outros as ações que se está realizando, ou seja, se eu falo em dominação eu falo o seu complemento fundamental sem o qual ela não existe, porque dominação envolve continuidade no tempo, não é um ato isolado de poder, o exercício puro e simples do poder é aquilo que Weber chamaria de violência, que eu imponho a minha vontade sobre você pela força, ou por, qualquer outra maneira que esse ato se esgota nas consequências que tenha. Dominação não, dominação é persistente, é o exercício persistente de um poder. Para ser persistente não pode ser pura e simplesmente uma agregação de atos de violência, ele tem que ser aceito e tornar aceitável, ele tem que se traduzir em orientações de conduta que sejam consideradas aceitáveis também por aqueles que não se beneficiam diretamente, ou seja, por aqueles que seriam os dominados, os que seriam mais pacientes do que agentes, os que seguem a orientação mais do que definem a orientação, os que seguem mais do que tem a liderança, as ações dos dominantes são legitimas, mas a legitimidade nisso, a uma justificativa para isso e ela é aceitável. O exercício de uma dominação carismática envolve a presença de um conjunto de seguidores de liderança que consideram perfeitamente legitimo o que ele faz ou fala porque é diferente, então há um fundamento de legitimidade nisso. Weber procura definir algumas características básicas de vários fundamentos de legitimidade mais presente em sua época e aquele que tem a ver a natureza não só racional, mas legal dos mandatos daqueles que estão em posição de poder, quer dizer, existe um estatuto legal que obriga a todos a fazer tais coisas, portanto, aquele que manda fazer deriva a sua legitimidade no fato que ele está seguindo um estatuto, mais é preciso que haja aceitação, ou seja, não se pode pensar na sociedade em termos da continuidade de certas relações entre os homens em nome do caráter legítimo que eles atribuem as relações de conduta, que saem de um núcleo, que é a área de condução de liderança da sociedade, o grupo que domina a sociedade nesse sentido específico de dominação, de indicação de caminhos. Então, sem poder, sem dominação e sem o caráter sempre problemático da legitimidade não se pode falar em sociedade. Só que dependendo do fundamento que os homens dão a essa aceitação, esse caráter problemático da legitimidade muda. A ideia de um líder carismático excepcional e fora de série faz a legitimidade se tornar a mais problemática possível, porque, qualquer falha retira a base de obediência e tudo vem abaixo, além de que os líderes que são os dominantes carismáticos, não são imortais. A sociedade não é senão a aceitação de um grande número de dominados como legitima das orientações de conduta que são formuladas por um pequeno número de figuras e imposições dominantes. Para Weber o que existe é simplesmente poder e dominação. A dominação para Weber não é só repressão, ela parte também do indivíduo ao qual é orientado para adotar uma certa conduta de vida.  Por exemplo, na ética protestante a dominação se manifesta através de uma conduta considerada melhor. A dominação esta presente em todas as relações e é considera inevitável. A sociedade esta sempre em uma relação de meios e fins. O dominante conduz a ação dos agentes sociais em busca do próprio objetivo que é a salvação. A dominação para Weber é relacional. (Café filosófico: Gabriel Cohn: A sociologia de Weber - https://www.youtube.com/watch?v=qU_zUBTsILQ)


Karl Marx: A dominação em Marx se manifesta através da luta de classes e ela é sempre e necessariamente opressora. Ela se viabiliza através do viés econômico. O poder para Marx é econômico. Para Marx a dominação é estrutural. Marx faz análise da totalidade (onde uma coisa isolada é reflexão do todo que se baseia na questão econômica). A dialética é a relação mutua entre as coisas, onde está restrito por uma condição material (materialismo) e é histórica porque toda a sua análise é através da história. Ela é dialética porque "sou vítima" mais também sou sujeito transformador da história (dialética). Marx ele é determinista, ou seja, acredita que a economia ou o materialismo é determinante de vida. Acredita que tudo está em transformação contextualizando determinado momento histórico e acreditando em sua mudança. Os donos dos meios de produção dominam as outras classes. 


Pierre Bourdieu: Dominação para Bourdieu é o habitus. Porque quanto maior o capital cultural maior é o poder se transformando em uma dominação. Linguagem é dominação/ certificado, diplomas. Para Bourdieu não existem classes sociais e sim espaços sociais. Os sujeitos ocupam diversos espaços sociais de acordo com a distribuição dos diferentes tipos de capitais da sociedade. O espaço social determina diferentes espaços de tomada de posição e diferentes disposições. "Espaço relacional" é um conjunto de posições distintas e coexistentes, exteriores umas as outras por sua exterioridade mútua e por relações de proximidade, vizinhança ou de distanciamento e também, por relações de ordem, como acima, abaixo e entre. De maneira geral o espaço de posições sociais retraduz intermediação do espaço de disposições (ou de habitus) ou, em outros termos, ao sistema de separações diferenciais. A cada classe de posições corresponde a uma classe de habitus. Os habitus são estruturas estruturas dispostas a funcionar como estruturas estruturantes. Ou seja, o habitus é um sistema de disposições duradouras adquiridas pelo ator social durante o processo de socialização. As disposições são atitudes de ser, perceber, sentir, fazer e pensar interiorizadas pelo indivíduo em razão de suas condições objetivas de existência. 

Michel Foucault: Não existe para Foucault uma teoria geral do poder. O que significa dizer que suas análises não consideram o poder como uma realidade que possua uma natureza, uma essência que ele procura definir por caracteristicas universais. Não existe algo unitário e global chamado poder, mas unicamente formas díspares, heterogêneas, em contante transformação. O poder não é um objeto natural, uma coisa; é uma prática social e, como tal, constituída historicamente. O autor acredita que o mundo é regido pelo poder. O poder se constitui em um conjunto de dispositivos de sujeição que são ao mesmo tempo mecanismos de produção dos indivíduos. Nós, indivíduos, somos fabricados pelo poder, quando ele pensa isso está apontando a existência de experiências ou de espaços como: a família, a escola, as igrejas, as ciências, como sendo um mecanismo de poder que age na concepção dos indivíduos. Esses espaços são pensados como poder porque são experiências de produção, de subjetivação na sujeição. O poder são modos de subjetivação que envolvem o controle, a domesticação, a fabricação de corpos, atos e pensamentos. O poder para Foucault ocorre como uma maquinaria sem maquinista. O poder não é um objeto fixo, o poder é um exercício de múltiplas sujeições. É um conjunto de dispositivos em constante funcionamento e assim se faz existir em algumas práticas. O poder pode ser entendido como esse conjunto de mecanismos que produzindo, fabricando os indivíduos se espalha na sociedade enquanto uma rede de práticas e saberes constitutivos e que irá ser a realidade do indivíduo. Foucault pensa as relações de poder sem as relações econômicas com as classes sociais, dessa forma, surge a sua maior rixa com os marxistas. Para Foucault o poder necessariamente não vai atender a um princípio econômico. Em primeiro lugar o poder se faz existir como saber e uma técnica de fabricação de indivíduos sujeitos há disciplinas, como: dos atos, da sexualidade, do desejo. As relações de poder geram marcas no dia-a-dia. Ela é padronizada, homogeneizada, é reduzida a um padrão, a um modelo. Fazendo com que isso implique em um esvaziamento daquilo que seria o corpo individual. Para Foucault a produção do indivíduo pelo poder disciplinar é a produção de corpos individuais que devem ser vigiados, treinados, utilizados e eventualmente punidos. O poder produz produção e age de forma inconsciente sobre nós. (Café filosófico: Alípio de Souza Filho: "O que é poder? Pensar com Foucault" https://www.youtube.com/watch?v=aXasa8vGu_k)

Anthony Giddens: Destaca-se como o teórico que vai refletir sobre o sentido da sociedade em que vivemos e assim penetra no terreno da auto-identidade: procurando analisar de que forma a contemporaneidade se relaciona com aspectos mais íntimos da vida pessoal. Para ele a estrutura é um conjunto de regras e recursos (controle de coisas e de pessoas) é um conjunto de relações de transformações organizadas como propriedades dos sistemas sociais. A estrutura esta fora do tempo e do espaço sendo marcada pela ausência do sujeito. Giddens está preocupado em como o habitus/rotina orientam ações dos indivíduos e como essas vão influenciar nas estruturas por meio de um processo de estruturação que pode tanto dar continuidade como também transformar/modificar as estruturas. A sociedade para Giddens se volta para a ação das pessoas; A questão para ele não é a estrutura ou os agentes, mas como a vida e a ação atuam na constituição de ambos. Enquanto Bourdieu da centralidade no como a estrutura é internalizada em forma de habitus e como esses orientam ações dos indivíduos, a estrutura é reprodução. 

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Resumo: Sobre o Pensamento de Weber com breves comparações entre Durkheim e Marx


Para ajudar com meus próprios estudos resolvi criar uma espécie de guia rápido, um resumo sobre o autor Max Weber. Eventualmente virão novos posts sobre autores. Se interessar, que te ajude também! Utilizei para escrever o resumo livros, artigos e vídeos-aula do youtube. Vou iniciar contextualizando o autor para depois entrar no livro "A ética protestante e o espírito do capitalismo" de 1904. Utilizei como base de estudos o vídeo do café filosófico de Gabriel Cohn que anexarei no final do texto. Transcrevi as partes mais importantes da entrevista e que me ajudou a entender os pontos de Weber, Durkheim e Marx.


Max Weber (alemão, 1864- 1920) assim como Émile Durkheim (francês, 1858-1917) estava emerso a um contexto emergente da sociedade capitalista industrial do século XIX, as crises econômicas, o conflito entre burguesia e proletariado, a exclusão da terra dos camponeses, o surgimento de problemas urbanos e ambientais devido ao rápido crescimento populacional, entre outros acontecimentos que refletiram na obra de Max Weber e Émile Durkheim. Contudo, Durkheim se difere de Weber por pensar em um Estado forte e tendo como referencia uma sociedade já solidamente construída (a França), enquanto a Alemanha de Weber acabava de se unificar. Portanto para Durkheim a sociedade não era problema, pois já era uma base muito concreta, o que preocupava Durkheim era tudo aquilo que poderia contribuir para desagregar e desintegrar a sociedade, sendo o contrário da perspectiva weberiana, onde ele se alimenta do caráter problemático da construção de uma sociedade de um estado forte. A Alemanha na virada do século XIX para XX primeiro estava unificada e sob hegemonia prussiana, tinha atravessado um processo fundo e rápido de industrialização (algo parecido estava acontecendo na Rússia, no mesmo período, onde também ocorria um processo rápido de industrialização). A Alemanha passa por esse período turbulento e apressado de industrialização ao mesmo tempo em que se constitui como estado nacional, organizando-se em termos que correspondia em grande medida a um grande princípio organizador da sociedade que havia sido herdado do século passado (XIX), que é o período de Karl Marx. No caso não era o princípio da organização nacional mais o princípio da organização da sociedade por classes. A Alemanha percorre em um período muito curto a organização conflitiva conforme 2 princípios: 1° organiza o maior movimento operário do mundo a partir do Partido Social Democrata fortíssimo, que entra no século XX bastante vigoroso e junto com isso busca a sua afirmação na Europa como Estado Nacional. As duas coisas em vários momentos conflitam como em 1914, quando a social democracia da Alemanha austríaca raxa porque entra diante do dilema que se deve manter seus princípios internacionalistas e não votar a favor de créditos de guerra que resultaria na Primeira Guerra Mundial. O que significa a preocupação weberiana? Significa que para ele a questão constante é a das formas de organização da sociedade e da sua unificação política, como algo que se tem que fazer, que se esta em andamento, que não está garantido, como algo que se esta em constante desafio e isso alimenta toda a reflexão weberiana. Como nos diz Gabriel Cohn. Weber vai estar preocupado com o movimento da aranha mais do que com a arquitetura da teia. 
Weber esta preocupado com o tema que se articula com o pensamento de Marx que é: "Quais são as dificuldades, as possibilidades, eventualmente para a constituição de um grande sujeito histórico, ou seja, de grupos sociais que sejam capazes de atribuir um certo sentido a história, de dirigir uma sociedade a um certo rumo, de organiza-la em função de um determinado projeto." Essa era uma preocupação de Marx no século XIX, só que ele respondia em termos do que seria no entender dele a organização de classe na sociedade e é este também o tema Weberiano, só que no caso dele refrata diretamente sobre a Alemanha e a questão dele é: quem está em condições, quem é o grupo social que dentro da Alemanha esta em condições de dirigir essa sociedade no reino da constituição de um estado nacional soberano forte? A resposta primeira de Weber é que a Alemanha não tem nenhum grupo, nenhuma classe social que saberá imprimir a essa sociedade um rumo no sentido de realmente fazer a diferença no cenário internacional. Weber acreditava que pela localidade da Alemanha e pelo seu tamanho a posição na Europa, era o seu destino ser um estado forte, fazer a diferença no cenário internacional. Isso significa que ele não vai ficar preocupado com as estruturas já montadas (a arquitetura da teia), significa que vai estar preocupado com as ações e com os agentes dessas ações (o movimento do aranha). No caso de Weber o processo já está em andamento, a grande estrutura não está montada, o processo esta em andamento, a sociedade não é plenamente construída, portanto, não é por aí que se pode falar, tem que se colocar toda ênfase sobre quem age e que modalidades de ações estão sendo executadas. Essa ênfase de no interior das sociedades haver modalidades inovadoras de ação, modalidades que indiquem rumos a seguir, mas que não sejam simplesmente rotineiras e repetitivas, isso, em grande medida, alimenta a reflexão weberiana que vai conduzi-lo a discutir longamente o problema da burocracia, que é uma realidade fundamental nas sociedade modernas, uma burocracia racionalmente organizada, com estatutos legais bem definidos e que funcione de maneira eficiente, sabendo também que a boa administração por melhor que seja não resolve o problema político. Uma parte do pensamento weberiano gira em torno desse jogo complexo entre aquilo que ele chama de corpo administrativo, que permite fazer funcionar qualquer sociedade e que tem que ser altamente qualificado, e, a questão política que é a capacidade primeira de fazer funcionar o corpo administrativo, formular exigências que ela sozinha não formula e a segunda formular o programa para o conjunto da sociedade, formular objetivos, projetos.
O pensamento weberiano é visceralmente político, a rotina entra como um componente fundamental para que as coisas funcionem, sobretudo, quando organizado em termos burocratas, mas, o que importa não é apenas o funcionamento eficaz, mas sim a direção, que significa, que haja um agente, uma ação capaz de formular objetivos. O que acaba fazendo Weber formular uma teoria da ação pensada como uma atividade orientada para um objetivo que da o sentido a ação. Weber vai querer saber o que é buscado nas próprias ações pelos agentes, o que é construído pelos agentes ao longo do exercício da sua ação. As múltiplas linhas de ação que são feitas por incontestáveis agentes, elas tecem, de uma maneira complexa, o que se chamaria de tecido social. Elas são tecidas por agentes que estão em busca de uma meta e que se cruzam de mil maneiras, dessa forma, tentam estabelecer relações entre ações que se estabelecem de diversas maneiras para perceber se elas realmente se cruzam de algum modo.  
Marx acredita que haveria apenas uma área de ação que permearia todo resto, que seria a ação econômica, que determinaria o rumo das demais e o que Weber está dizendo é que nenhuma orientação de ação que o adote, por si só, garante uma outra ou imprime trajetória, o problema é saber se entre algumas em algum momento uma se torna importante para a outra. Cada uma delas tem uma trajetória segundo Weber, indo contra Marx nesse sentido.

- O Vídeo onde pode encontrar mais sobre é esse: 
https://www.youtube.com/watch?v=qU_zUBTsILQ

Resumindo "A ética protestante e o espírito do capitalismo" em específico, da pra entender a ideia de Weber dita acima no interior do livro. É o modo pelo qual Weber analisa determinado momento histórico. Entre o modo como determinadas populações europeias orientam a sua ação religiosa e o modo como orientam a sua vida econômica. O modo peculiar de como determinadas correntes do protestantismo levavam os homens a procurar indícios de sua salvação, se articulavam de uma maneira importante, de maneira significativa, como o modo pelo qual esses mesmos homens, se comportavam, se orientavam, conduziam a sua ação, a sua conduta, na área econômica. A ideia básica é a de que havendo uma insegurança fundamental sobre si, você vai ou não ser salvo após a morte? Se você esta entre aqueles predestinados a salvação. Havendo uma insegurança fundamental sobre isso, você é levado a orientar a sua conduta numa área onde os resultados são palpáveis e a área econômica é ótima pra isso, porque ela permite avaliar resultados que são claros na área econômica. O que significa que o protestante vai se esforçar cada vez mais para obter o máximo daquilo que depende dele, que é a área econômica, obter o máximo de sucesso, porque quanto mais naquilo que depender de mim eu obtiver sucesso, mais plausível se torna a ideia de que se esta fadado ao sucesso em outra área também, como, a religiosa. Ou seja, importa ou não para mim enquanto empresário que eu seja um bom integrante da igreja x? O que Weber esta preocupado é em acompanhar esse jogo intrincado em que os n fios vão se tecendo e eventualmente por esses ou aquele significados que um tenha para o outro vão se entrecruzando e aos poucos constituindo essa teia de relações que é a sociedade.
-Para Weber o capitalismo surge a partir do pensamento capitalista. Para ele são as ideias que mudam o mundo, para ele o capitalismo surge do espírito do capitalismo, ou seja, da ética capitalista.
-Para os calvinistas o nosso destino, se vamos para o céu ou para o inferno já está traçado, se já estamos predestinados, como saber se somos os escolhidos de Deus? A resposta está na ação econômica, o sucesso no trabalho ou a resistência ao pecado é um sinal de que você é o escolhido de Deus.
-Dessa forma, os calvinistas agem visando o lucro, reinvestindo. Para ele o protestante acumula dinheiro não para gastar, mais para reinvestir, a valorização do trabalho, do negócio, tudo isso geraria a ética capitalista que geraria o capitalismo.

Vou anexar aqui um artigo que achei interessante falando sobre a "objetividade" do conhecimento nas ciências sociais para Weber: http://csonline.ufjf.emnuvens.com.br/csonline/article/viewFile/2260/1607

Qualquer coisa a acrescentar deixe nos comentários. Só poderão ser feitos comentários se estiver logado na conta do google. Boa parte do texto acima é transcrito da entrevista de Gabriel Cohn ao café filosófico. Espero que te ajude também. 



Resumo: Sobre o pensamento de Émile Durkheim em especial com o livro "O suicídio"


Para ajudar com meus próprios estudos resolvi criar uma espécie de guia rápido, um resumo sobre o autor Émile Durkheim para facilitar os estudos. Eventualmente virão novos posts sobre autores. Se interessar, que te ajude também! Utilizei para escrever o resumo livros, artigos e vídeos-aula do youtube. Vou iniciar contextualizando o autor para depois entrar no livro "o suicídio" de 1897.

-Durkheim (1858-1917) é francês e um dos autores que ajudaram a difundir o pensamento sociológico. Estava emerso a um contexto emergente da sociedade capitalista industrial do séc. XIX, as crises econômicas, o conflito entre burguesia e proletariado, a exclusão da terra dos camponeses, o surgimento de problemas urbanos e ambientais devido ao rápido crescimento populacional, a Comuna de Paris, entre outros acontecimentos que refletiram na obra de autor. Durkheim acreditava que esses problemas não eram de natureza econômica, mas sim da fragilidade moral na conduta adequada dos indivíduos. Dessa forma, o sociólogo francês demonstrava estar preocupado em desenvolver uma ciência que ajudasse a encontrar repostas para as patologias sociais. Uma ciência social que pudesse encontrar, através de investigações empíricas, novas ideias morais que tivesse a capacidade de guiar a conduta dos indivíduos. Durkheim acreditava que o sociólogo tinha as mesmas funções de um médico, isto é, diagnosticar as causas dos problemas e encontrar remédios para as doenças sociais.
O autor vai dizer que o suicídio tem um caráter social, cultural. O meio em que o indivíduo vive ou a cultura que recebeu vai contribuir para a questão do suicídio. Ele vai buscar entender através dos dados de alguns países, aspectos morais, culturais de um povo para o qual o suicídio é mais forte em um povo do que em outro. 
-Durkheim vai dizer que o suicídio é um fator social. Dessa forma, vai pegar as taxas de suicídio e vai relacioná-las com a integração da sociedade. Para ele o fato do suicídio é sociológico. 
-Vai concluir em seus estudos, por exemplo, que no verão, as pessoas se suicidam mais, contudo, o fator climático não tem influência explicativa. Vai dizer que "se os suicídios aumentam no verão não é porque o calor exerce uma influência perturbadora nos organismos, mas porque a vida social se torna mais intensa." Sendo assim, não é o meio físico que estimula diretamente os suicídios, este depende de condições sociais. 
-Dessa forma, Durkheim investiga vários fatores para saber se eles tem incidência no número de suicídios de cada região, como o fator climático, a hereditariedade, etc. Contudo, nenhum tem influência direta em tal.
-Primeiro se demonstra que em cada grupo social a uma tendência para o suicídio que não pode ser explicada mediante a constituição orgânico-psíquica e nem mediante a natureza do meio físico. Dependendo de causas sociais. Sendo assim, vai indagar sobre o Estado de diferentes meios sociais (confissões religiosas, família, sociedade política, grupos profissionais, etc) em função dos quais eles acredita ter incidência na variação do suicídio. Conclui-se entre outras coisas que os protestantes se suicidam mais que os católicos. E que os judeus menos que ambos. 
-Durkheim vai estudar o indivíduo perante a sociedade - vai dizer que o indivíduo é fruto da sociedade (seus pensamentos, ideias). Sendo assim, o padrão da sociedade se impõem perante o indivíduo. 
-Durkheim vai tentar provar que o suicídio é um fato social, ou seja, qualquer coisa que exerce influência e que acaba formando o indivíduo. Ou seja, qualquer coisa que faça definir, impor sobre o sujeito um modo de comportamento, um padrão social, político, uma moral, uma ética. Acreditando que todo pensamento só chegou até você através dos fatos sociais. O fato social impõem suas ideias através da chamada força de coerção que ocorre através das regras morais, onde você adota ideias através do padrão cultural, do costume, uma questão religiosa, familiar, que vem de padrões definidos no âmbito religioso ou cultural.
-O padrão de comportamento do indivíduo viria da sociedade (externa) para com o indivíduo, sendo assim, é ela que determina através dos fatos sociais se um indivíduo vai cometer suicídio ou não. 
-A força coercitiva vem das regras jurídicas, institucionais, legais - que são forças coercitivas que ajudam a definir padrão de comportamento (As regras jurídicas dependem das regras morais). Por exemplo, o que determina que eu não posso matar outra pessoa? Ora, as regras morais que se efetivam em regras jurídicas, uma esta ligada a outra, influenciando diretamente os indivíduos. 
-Durkheim conclui também que as pessoas se suicidam mais na área urbana do que na rural.
-Para ele existem 4 tipos de suicídio: o egoísta, o anômico, o altruísta e o fatalista.
-O suicídio egoísta é quando há o isolamento excessivo, quando a pessoa é separada do grupo. Neste tipo de suicídio há enfraquecimento dos laços sociais, da identificação com o próximo e da solidariedade individual para com o próximo.
- O suicídio altruísta é o contrário do egoísta. Acontece quando há apego excessivo, quando a identificação é tão forte que suas próprias vidas não tem valor independente. 
-O suicídio anômico: acontece em momentos de desorganização social, em condições de anomia ou ausência de normas. Em situações de anormalidade nas quais os valores e tradições de referência são abalados.
- O suicídio fatalista: acontece nas sociedades onde há alto grau de controle sobre as emoções e motivações de seus membros. 
-Os suicídios anômicos e egoístas são típicos das sociedades modernas. O primeiro é característico da falta de coesão e o segundo da falta de significado.  Os dois são interconectados e associados à inovações tecnológicas e a atividades industriais onde há intensa divisão do trabalho.
-As características gerais dos suicídios são aquelas que resultam imediatamente de causas sociais. 
-O suicídio é em essência um fenômeno social.  O suicídio é um fato social ligado a motivações de natureza coletiva, externa e não estritamente individual. 
-Durkheim dessa forma estuda fatores que para ele tornam a sociedade coesa e com grau de moralidade elevados. 
-Nas sociedades modernas, a  consciência individual é mais elevada e acentuada, o que resulta em um maior grau de autonomia e liberdade de ação. De acordo com Durkheim, porém, o individualismo, que para muitos pensadores é considerado desagregador da ordem social (como para Marx, que quanto mais isolado o indivíduo mais se geraria uma anomia social, ou seja, a barbárie), para Durkheim é um fator benéfico para a integração social à medida que contribui para a progressiva diferenciação social, que se manifesta através da divisão do trabalho social. A divisão do trabalho social (que deve ser entendida como a proliferação das diferentes profissões e da variedade de atividades industriais) acaba provocando uma crescente interdependência entre os indivíduos. Sendo um fator positivo para a integração social uma vez que gera maior funcionalidade. Ou seja, resumindo: Durkheim acredita que quanto mais individual se torna mais ele se fortalecerá, mais a sociedade defenderá ou evitará a anomia social. Quanto maior o isolamento, mais especializa-se e a sociedade por si só acabaria dividindo cada vez mais as responsabilidades e as tarefas, assim, seriam ampliadas as necessidades de ligação de um elo com o próximo também.

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